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Ser mãe depois do câncer

O câncer é uma doença que afeta cada vez mais pessoas em nossa sociedade, mas graças aos avanços no tratamento, a taxa de sobrevivência tem aumentado notavelmente. No entanto, esses tratamentos podem ter efeitos colaterais graves, como a redução ou anulação da função ovariana em mulheres. Por isso, a conservação da fertilidade deve ser considerada desde o momento do diagnóstico. Existem várias opções, incluindo a criopreservação de oócitos ou tecido ovariano, transposição cirúrgica dos ovários e, em último caso, adoção. O tratamento do câncer também pode afetar a fertilidade, seja através da quimioterapia, radioterapia ou cirurgia. É importante estar ciente desses efeitos colaterais e discutir as opções de conservação da fertilidade com o oncologista e um especialista em reprodução assistida.

Sumário

A ocorrência de câncer em nossa sociedade aumenta paulatinamente. Ainda que seja uma doença muito grave, a taxa de sobrevivência, principalmente em crianças e adolescentes com câncer, tem crescido notavelmente nos últimos trinta anos como resultado dos tratamentos. A taxa de sobrevivência aos cinco anos é de mais de 70% em crianças e adolescentes, cerca de 80% em leucemia linfoblástica aguda e mais de 90% em linfoma de Hodgkin. O câncer de mama, outro dos mais frequentes, atinge no Brasil aproximadamente uma de cada 10 mulheres, e dessas uma em cada 10 é diagnosticada em idade fértil.

                  As mulheres sofrem com as consequências dos tratamentos do câncer. A radioterapia e a quimioterapia causam uma redução da função ovariana ou, até mesmo, sua anulação. De fato, estima-se que 42% das meninas ou mulheres jovens que recebem quimioterapia e/ou radioterapia tem algum desses problemas. Conservar a fertilidade das pacientes em que é diagnosticado um câncer deveria ser uma questão considerada no mesmo momento do diagnóstico.

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                  Há alguns anos vem sendo propostas diferentes estratégias para proteger e conservar a função ovariana em pacientes com câncer e outras doenças.

                  Que opções existem para manter a fertilidade antes do tratamento?

                  Criopreservação de oócitos ou vitrificação: Consiste em congelar os oócitos depois de ter realizado um estímulo ovariano. Hoje em dia, diante da técnica de vitrificação se consegue excelentes resultados na hora de descongelar (97%). A grande vantagem dessa opção é que permite que a mulher tenha filhos alguns anos depois de congelá-los, mas com as mesmas possibilidades de quando os óvulos foram vitrificados.       

                   Criopreservação de tecidos ovarianos: Com esta técnica se consegue preservar a fertilidade e a função hormonal ovariana. Consiste na extração através de cirurgia laparoscópica do “córtex” de um dos ovários, para ser congelado posteriormente. Quando a paciente se cura, este “córtex” pode ser reimplantado no mesmo local em que foi obtido. Em meninas não é indicado a criopreservação de oócitos, mas pode ser indicada a de tecido ovariano: em adolescentes e mulheres jovens são adequadas as duas técnicas.       

                  Outras opções: A transposição cirúrgica dos ovários é realizada para evitar a exposição direta dos ovários à radioterapia e pode ser feita por ginecologistas treinados em cirurgia laparoscópica.       

                  Que opções existem depois do tratamento?

                  Se não foram criopreservados óvulos e tecidos ovarianos antes do tratamento.

                  As opções dependerão de cada situação:

                  1 – Meios naturais: A recuperação ovulatória  ocorre somente em 20-30% dos casos. O mais adequado, é tentar conseguir uma gestação por meios naturais, mas é conveniente esperar o tempo aconselhado por seu oncologista antes de tentar a gestação espontânea.

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                  2 – Reprodução assistida: Se é recuperada a função dos ovários, mas a reserva ovariana é escassa, as probabilidades de conseguir uma gravidez de forma natural se reduzem. Nestes casos, é conveniente realizar um estudo da função ovariana, para medir as possibilidades de gravidez. Assim, dependendo da idade e da reserva ovariana da mulher, poderão ser realizados diferentes tratamentos de reprodução assistida que estão disponíveis atualmente [inseminação artificial, fecundação in vitro (FIV) ou microinjeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI)]       

                  3- Adoção: Por último, e não por isso menos importante ,outra alternativa para formar uma família é a adoção.

Que tratamentos podem afetar a fertilidade?

A infertilidade pode ser causada por qualquer um dos diferentes tratamentos oncológicos aplicados atualmente: Quimioterapia, Radioterapia ou Cirurgia.

1 – Quimioterapia

                  A Quimioterapia atua sobre todas as células do corpo, destruindo tanto as células cancerígenas como as saudáveis que estão em processo de divisão. Entre estas se encontram os óvulos. Por isso, um dos potenciais efeitos colaterais destes tratamentos é a influência no sistema reprodutivo: basicamente, sua consequência seria a redução do número de óvulos, embora os riscos possam variar segundo cada tratamento.    

                  2 – Radioterapia

                  A radiação no útero e ovários pode causar a infertilidade ou, em muitos casos, a esterilidade permanente. Em algumas mulheres o retorno da menstruação pode aparecer meses ou anos depois de encerrar seu tratamento.       

 3 – Cirurgia

                  Em casos que se extraiam os dois ovários (ooforectomia bilateral) não há possibilidades de manter a fertilidade, e se a extração é de um único ovário pode ser afetada em grandes proporções. Outro procedimento cirúrgico que pode afetar a fertilidade da mulher é da endometriose grave.

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                  Perguntas mais frequentes

                  Quais são os sintomas da infertilidade?

                  Na mulher que foi tratada com Quimio/Radioterapia, pode haver ausência do ciclo menstrual, ciclos irregulares.       

                  Como é possível determinar a fertilidade de uma mulher?

                  Além da idade, podemos nos guiar por exames de sangue para avaliar seus hormônios e ultra-som ginecológico.       

                  Quando inicia e quanto dura a infertilidade depois de um tratamento oncológico?

                  Começa com o tratamento oncológico, mas a fertilidade pode ser recuperada após o tratamento ou também ocorrer uma infertilidade irreversível.        

                  A partir de que idade se pode congelar óvulos/tecido ovariano?

                  Pode-se congelar óvulos e tecidos ovarianos após o início do ciclo menstrual.

Quanto dura a amostra de tecido ovariano/óvulos criopreservados?

Podem permanecer congelados por anos sem perder sua qualidade.       

                É seguro o uso de oócitos/tecidos ovarianos criopreservados para um tratamento de reprodução assistida?

                  Hoje em dia, a utilização de óvulos congelados é segura e sua eficiência é amplamente comprovada. A utilização de tecidos ovarianos é contra-indicada em casos de leucemias.       

Fonte: Rizk, B; Garcia-Velasco, J; Sallam, H; Infertility and Assisted Reproduction. 2008. Cambridge University Press.

Fonte: Amato, JLS. Em Busca Da Fertilidade. 2014

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Dra. Juliana Amato

Dra. Juliana Amato

Líder da equipe de Reprodução Humana do Fertilidade.org Médica Colaboradora de Infertilidade e Reprodução Humana pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-graduado Lato Sensu em “Infertilidade Conjugal e Reprodução Assistida” pela Faculdade Nossa Cidade e Projeto Alfa. Master em Infertilidade Conjugal e Reprodução Assistida pela Sociedade Paulista de Medicina Reprodutiva. Titulo de especialista pela FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e APM (Associação Paulista de Medicina).

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