O que é a sífilis e por que importa em 2025
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum. Ela evolui em fases, pode imitar outras doenças e, quando não tratada, atinge órgãos vitais como o cérebro e o coração. Em 2025, a doença segue em ascensão em várias regiões, inclusive entre pessoas com acesso regular à saúde, por isso merece atenção redobrada. A boa notícia: é prevenível, tem diagnóstico simples e cura com tratamento adequado.
Para quem vive a saúde íntima com responsabilidade, conhecer sinais, formas de transmissão e estratégias de prevenção é essencial. Este guia prático reúne o que você precisa saber para reconhecer precocemente a sífilis, reduzir riscos no dia a dia e buscar o cuidado correto sem receios ou estigmas. Informação clara salva tempo, evita complicações e protege você e seus parceiros.
Como a infecção é transmitida e quem está em risco
A transmissão da sífilis acontece principalmente pelo contato sexual sem proteção, mas não se limita a isso. Entender o caminho do contágio ajuda a ajustar comportamentos e prevenir novos casos.
Vias de transmissão
– Sexo vaginal, anal e oral: o contato pele a pele com lesões (mesmo pequenas e indolores) é suficiente para transmitir a bactéria.
– Transmissão vertical: pode ocorrer durante a gestação e o parto, com risco elevado se a gestante não for diagnosticada e tratada.
– Contato com sangue: mais raro no cotidiano, mas possível em situações de compartilhamento de objetos que causam microcortes (por exemplo, lâminas) ou de brinquedos sexuais sem higiene adequada.
– Beijo e carícias: a transmissão pode ocorrer se houver lesões na boca ou ao redor dos lábios.
Importante: o risco não depende do número de parceiros, mas da presença de exposição sem barreira de proteção e da fase da infecção. Durante a fase primária e secundária, a pessoa é altamente contagiosa.
Fatores de risco e mitos comuns
– Fatores de risco: múltiplos parceiros, sexo sem preservativo, histórico recente de IST, uso compartilhado de sex toys sem preservativo ou sem higienização, e ausência de testagem regular.
– Mitos para evitar:
– “Se não dói, não é grave.” Lesões da sífilis geralmente não doem, e isso atrasa o diagnóstico.
– “Camisinha em uma prática basta.” A camisinha reduz muito o risco, mas lesões fora da área coberta ainda podem transmitir. Inclua barreiras para sexo oral (como o filme de látex).
– “Passou e sumiu sozinho.” A lesão inicial some, mas a bactéria permanece no corpo e progride silenciosamente se não tratada.
Sinais e sintomas por fase
A evolução clínica é típica, mas enganosa: os sinais podem desaparecer sem cura. Manter o radar ligado e procurar avaliação diante de qualquer alteração é decisivo.
Fase primária
– O que aparece: uma úlcera única (chancro), redonda, com base endurecida, bordas regulares e geralmente indolor. Pode surgir na vulva, pênis, ânus, colo do útero, boca ou garganta.
– Quando surge: de 10 a 90 dias após a exposição (em média 3 semanas).
– Acompanhamento: linfonodos (ínguas) na virilha ou pescoço podem aumentar, também sem dor.
– Quanto dura: a lesão desaparece espontaneamente em 3 a 6 semanas, mas a infecção permanece.
Fase secundária
– Manchas e lesões: erupção cutânea difusa, com manchas avermelhadas/acastanhadas, especialmente nas palmas das mãos e plantas dos pés. Podem surgir lesões úmidas em dobras (condilomas planos), altamente contagiosas.
– Sintomas sistêmicos: febre baixa, mal-estar, dor de garganta, dores musculares, queda de cabelo em tufos e aumento generalizado de linfonodos.
– Atenção: os sinais também podem desaparecer por conta própria. Sem tratamento, a doença entra em fase latente.
Fase latente e fase terciária
– Fase latente: não há sintomas, mas os exames de sangue seguem positivos. Divide-se em latente recente (até 1 ano) e tardia (mais de 1 ano ou duração desconhecida).
– Fase terciária: pode surgir anos após a infecção não tratada. Acomete coração e grandes vasos (ex.: aneurisma), sistema nervoso central (meningite, demência, alterações de visão e audição), pele e ossos.
– Sinais de alarme: alterações neurológicas, visão turva, perda auditiva ou dores intensas exigem avaliação imediata.
Dica prática: qualquer ferida genital ou oral indolor, manchas nas palmas e plantas, ou sinais sistêmicos após relação desprotegida justificam testagem para sífilis.
Diagnóstico preciso: quando e quais exames fazer
O diagnóstico é essencialmente laboratorial e deve ser orientado pelo histórico clínico, exame físico e fase provável da doença. Em 2025, os serviços de saúde oferecem testagem ágil e sigilosa.
Testes treponêmicos e não treponêmicos
– Testes treponêmicos: detectam anticorpos específicos contra o Treponema pallidum (ex.: testes rápidos, FTA-ABS, TPHA, EIA). São úteis para triagem e permanecem positivos por muitos anos, mesmo após a cura.
– Testes não treponêmicos: VDRL e RPR medem anticorpos inespecíficos e fornecem um título (ex.: 1:8, 1:32) que ajuda a acompanhar a resposta ao tratamento. O VDRL é o mais utilizado e deve ser repetido no seguimento.
Como interpretar em linhas gerais:
– Treponêmico positivo + VDRL reagente: infecção ativa ou recente. Avaliar título e sintomas.
– Treponêmico positivo + VDRL não reagente: passado de sífilis tratado ou fase muito inicial/latente; repetir conforme avaliação.
– Treponêmico negativo + sintomas típicos: repetir a testagem pela possibilidade de janela imunológica.
Janela imunológica, repetição e acompanhamento
– Janela imunológica: os exames podem levar de 2 a 6 semanas após a exposição para positivarem. Se houver suspeita forte e o primeiro teste vier negativo, repita após 2 a 4 semanas.
– Repetição programada: após tratamento, repete-se o VDRL em 3, 6 e 12 meses (e 24 meses em casos tardios) para verificar queda do título.
– Critério de boa resposta: queda de pelo menos duas diluições no VDRL (ex.: de 1:32 para 1:8) em 6 a 12 meses nas formas recentes. Ausência de queda sugere falha terapêutica, reinfecção ou sífilis tardia, exigindo reavaliação.
Quando investigar neurossífilis: presença de sintomas neurológicos ou oculares, falha de resposta sorológica, ou VDRL muito elevado com queixas compatíveis. Nesses casos, o médico pode solicitar punção lombar e outros exames.
Tratamento atualizado: penicilina, manejo de parceiros e gestação
A penicilina continua sendo o tratamento de escolha e a única opção segura e eficaz durante a gestação. Seguir o esquema correto por fase e tratar parceiros interrompe a cadeia de transmissão.
Esquemas de penicilina por fase
– Sífilis recente (primária, secundária e latente recente): penicilina benzatina 2,4 milhões de unidades por via intramuscular, dose única (geralmente 1,2 milhão em cada glúteo).
– Sífilis latente tardia ou de duração indeterminada: penicilina benzatina 7,2 milhões de unidades no total, aplicadas como 2,4 milhões IM por semana, durante 3 semanas consecutivas.
– Neurossífilis e acometimento ocular/otorreológico: penicilina cristalina aquosa 18 a 24 milhões de unidades por dia, intravenosa, dividida em doses a cada 4 horas, por 10 a 14 dias. Em algumas situações, adiciona-se penicilina benzatina ao fim do esquema, conforme conduta médica.
Orientações práticas:
– Não atrase o tratamento à espera de todos os resultados quando há forte suspeita clínica.
– Não fracionar ou pular doses semanais no esquema tardio: o intervalo superior a 14 dias pode exigir reinício do ciclo.
– Evite relações sexuais até 7 a 10 dias após a dose única ou até completar o esquema, e sempre após sinal verde do profissional de saúde.
Reação de Jarisch-Herxheimer, alergias e alternativas
– Reação de Jarisch-Herxheimer: pode surgir nas primeiras 24 horas após a primeira dose (febre, calafrios, dor de cabeça, piora transitória das lesões). Costuma ser autolimitada. Hidrate-se, use antitérmicos se necessário e mantenha contato com seu médico.
– Alergia à penicilina: na gestação, recomenda-se dessensibilização e uso de penicilina. Fora da gestação, alternativas como doxiciclina 100 mg, 2x ao dia, por 14 dias (formas recentes) ou 28 dias (tardias) podem ser usadas, segundo avaliação clínica.
– Observe interações: avise sobre todas as medicações em uso e condições de saúde, especialmente se houver doença renal, neurológica ou gravidez.
Sífilis na gravidez e prevenção da transmissão vertical
– Triagem obrigatória: teste no início do pré-natal, no segundo/terceiro trimestre e no parto. A sífilis congênita é prevenível, mas requer diagnóstico precoce e tratamento adequado da gestante e do parceiro.
– Tratamento da gestante: penicilina benzatina conforme a fase. Alternativas à penicilina não são recomendadas pela menor eficácia para proteger o bebê.
– Seguimento: repetir VDRL para verificar queda do título e garantir que o tratamento tenha sido concluído com intervalo correto.
– Cuidados com o bebê: recém-nascidos de mães com sífilis devem ser avaliados e, quando indicado, tratados conforme protocolos pediátricos.
Prevenção e vida após o tratamento
Manter relações sexuais prazerosas e seguras é possível com atitudes simples e consistentes. A prevenção não é apenas camisinha: é rotina de cuidado, comunicação e testagem.
Sexo mais seguro em diferentes práticas
– Vaginal e anal: use camisinha do começo ao fim da relação. Troque a camisinha ao mudar o tipo de prática.
– Oral: risco menor que no sexo vaginal/anal, mas real. Use camisinha ou filme de látex (dental dam) para reduzir a transmissão.
– Lesões visíveis: evite contato sexual quando houver feridas, manchas suspeitas ou corrimentos não explicados.
– Brinquedos sexuais: utilize preservativo nos sex toys, higienize com água e sabão neutro após o uso e não compartilhe; se compartilhar, troque o preservativo entre parceiros.
– Objetos pessoais: não compartilhe itens que possam causar microcortes, como lâminas de barbear.
Boas práticas adicionais:
– Teste rotineiro: inclua a sífilis no seu check-up anual de IST, ou semestral se tiver múltiplos parceiros ou práticas de maior risco.
– PrEP e PEP: a profilaxia pré e pós-exposição ao HIV não previne sífilis; continue usando preservativo e mantendo a testagem em dia.
– Vacinas: não há vacina contra sífilis; atualize-se com outras imunizações relevantes (hepatites, HPV) para proteção integral da saúde sexual.
Retorno à rotina, acompanhamento e proteção futura
– Critérios de cura e cicatriz sorológica: após o tratamento bem-sucedido, o VDRL deve reduzir ao longo dos meses. Em alguns casos, pode permanecer baixo e estável (cicatriz sorológica), sem indicar doença ativa. Seu médico interpretará a evolução de acordo com a fase inicial.
– Sinais de reinfecção: novo aumento do título do VDRL após queda, reaparecimento de lesões ou sintomas. Isso requer reavaliação e, se confirmado, novo tratamento.
– Parceiros: todos os parceiros dos últimos 90 dias (formas recentes) devem ser avisados, testados e, se indicado, tratados. Priorize uma conversa empática e objetiva; oferecer informação é um ato de cuidado.
– Saúde mental e estigma: sífilis é uma infecção comum e tratável. Busque apoio profissional se sentir ansiedade ou culpa; informação e acompanhamento reduzem o impacto emocional.
Plano de ação em 5 passos após uma suspeita de sífilis:
1. Observe sinais: ferida indolor, manchas nas palmas/plantas, febre baixa, ínguas.
2. Procure testagem: teste rápido e VDRL, repetindo em 2 a 4 semanas se necessário.
3. Inicie o tratamento: siga o esquema com penicilina benzatina conforme a fase.
4. Avise parceiros: convide para testagem e tratamento quando indicado.
5. Faça seguimento: repita VDRL em 3, 6 e 12 meses; retome a vida sexual com segurança após liberação.
Exemplos de conversas que funcionam:
– “Recebi um resultado sugestivo de sífilis. Estou tratando e quero que você também se cuide. Podemos ir juntos fazer os testes?”
– “Percebi uma ferida e vou ao médico hoje. Quando tiver o resultado, te aviso. Se for sífilis, é tratável. Vamos acompanhar juntos.”
Quando procurar atendimento imediato:
– Sintomas neurológicos (visão turva, paralisia, confusão), dor ocular intensa, cefaleia severa, rigidez de nuca, perda auditiva súbita.
– Gestantes com qualquer suspeita clínica ou resultado positivo.
– Recém-nascidos de mães com tratamento inadequado ou sem queda do VDRL.
Cenários práticos e decisões rápidas:
– Tive relação desprotegida com parceiro novo e notei uma ulceração pequena: faça testagem imediata, use preservativo em todas as relações subsequentes e evite sexo se houver lesões ativas; inicie tratamento se indicado.
– Fiz tratamento há 6 meses, meu VDRL era 1:32 e agora 1:8: evolução favorável (queda de duas diluições). Continue acompanhamento.
– Tenho alergia a penicilina e estou grávida: procure serviço especializado para dessensibilização; a penicilina é necessária para proteger o bebê.
O papel do ginecologista e da atenção primária:
– Para mulheres e pessoas com vagina, a avaliação ginecológica permite identificar lesões discretas no colo do útero e vagina, orientar métodos de barreira e ajustar o calendário de testagem.
– A integração com a atenção primária facilita acesso a testes rápidos, tratamento gratuito e acompanhamento do casal, reduzindo reinfecções.
Em 2025, cuidar de sífilis significa combinar conhecimento, prevenção inteligente e acesso ao tratamento. Você agora sabe reconhecer sinais-chave, quando testar e como agir com rapidez e segurança. Se algo parece fora do comum, marque uma consulta hoje mesmo e incentive seus parceiros a fazer o mesmo. Sua saúde sexual merece prioridade: informe-se, teste-se e proteja-se.
O vídeo aborda a sífilis, uma doença sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum. A transmissão ocorre através do sexo vaginal, anal ou oral, e também durante o parto. A sífilis se manifesta em três fases:
**Fase Primária:** Surge uma úlcera (chancro) na região genital, boca ou ânus, sem dor, que desaparece após semanas ou meses.
**Fase Secundária:** Apresenta erupções cutâneas (manchas avermelhadas ou acastanhadas), principalmente nas palmas das mãos e plantas dos pés, além de febre baixa, dores musculares, mal-estar e perda de cabelo.
**Fase Terciária:** Acomete órgãos internos como o coração, cérebro e sistema nervoso, podendo causar aneurismas, AVC, meningite, demência, paralisia e cegueira.
O diagnóstico é feito através do exame de sangue VDRL. O tratamento é feito com penicilina.
É fundamental usar preservativos durante as relações sexuais, manter os exames em dia e ter uma comunicação aberta sobre saúde sexual com o parceiro. Evitar o compartilhamento de objetos pessoais também ajuda na prevenção.