O que você precisa saber agora sobre feridas no colo do útero
Sangramento após a relação, corrimento diferente ou um comentário do médico sobre “feridas no colo do útero” costumam acender um alerta imediato: será que é HPV? Em 2025, a boa notícia é que nem toda alteração no colo tem relação com o papilomavírus humano. Muitas vezes, o quadro é benigno, responde bem a tratamentos simples e não tem impacto no futuro reprodutivo. Entender as causas, o passo a passo dos exames e quando se preocupar ajuda a reduzir a ansiedade e a tomar decisões assertivas.
Neste guia prático, você vai aprender por que o aspecto do colo pode variar ao longo da vida, quais condições imitam feridas, como diferenciar inflamações de lesões causadas pelo HPV e quais são os cuidados recomendados hoje. Se você ouviu o termo feridas colo no consultório ou em um laudo, siga adiante: com informação de qualidade, é possível agir com calma e segurança.
Por que “feridas” nem sempre significam HPV
O que você realmente vê no exame ginecológico
Quando o profissional examina o colo do útero com o espéculo, o que aparece como “ferida” pode ser uma área mais avermelhada, um ponto que sangra com facilidade ou uma região com pequenas erosões. Em muitos casos, isso corresponde a ectopia cervical (também chamada de ectropion): a parte interna do colo, naturalmente mais avermelhada e sensível, fica exposta para a parte externa. É comum em mulheres que usam anticoncepcionais combinados, grávidas e adolescentes, por influência hormonal.
Outra situação frequente é a cervicite, uma inflamação do colo que pode ser causada por microbiota vaginal desequilibrada, alergias (a preservativos com látex, por exemplo), traumas mecânicos ou infecções (incluindo, mas não apenas, ISTs). No exame, a cervicite pode dar aspecto de “ferida”, com secreção e sangramento ao toque, sem necessariamente significar lesão pré-cancerígena.
Quando o HPV entra na história
O HPV pode causar alterações celulares que, ao longo do tempo e em uma minoria dos casos, evoluem para lesões de alto grau. Essas mudanças são identificadas em exames de rastreamento (Papanicolau e/ou teste molecular para HPV), não apenas pela aparência do colo. Em outras palavras, o “olho nu” não confirma HPV. Mesmo quando há verrugas (condilomas) na vulva ou vagina, elas não definem, por si só, o que está acontecendo no colo. A confirmação vem dos exames citológicos, da colposcopia com biópsia e, cada vez mais, de testes de HPV de alto risco.
Outras causas comuns e como reconhecer
Cervicite e ISTs frequentes
A cervicite pode ser aguda (com sintomas mais intensos) ou crônica (persistente e mais discreta). Entre as causas infecciosas, destacam-se:
– Clamídia e gonorreia: podem cursar com corrimento amarelado, dor pélvica e sangramento pós-coito. Muitas vezes são silenciosas e identificadas apenas em triagem.
– Tricomoníase: corrimento espumoso, odor mais intenso e prurido vaginal são típicos.
– Vaginoses e candidíase: não são ISTs, mas o desequilíbrio da flora vaginal pode inflamar o colo.
Na avaliação clínica, o ginecologista investiga sinais associados (dor, odor, aspecto do corrimento) e pode solicitar testes específicos, como PCR para ISTs, para orientar um tratamento direcionado. Quando tratados, os sinais de “ferida” costumam regredir.
Ectopia cervical e anticoncepcionais
A ectopia é uma variação anatômica benigna influenciada por estrogênio. Em usuárias de anticoncepcional combinado (pílula, anel, adesivo), a exposição hormonal pode deixar a junção escamo-colunar mais externa, tornando o colo mais sensível. Isso explica pequenos sangramentos após a relação ou na coleta do Papanicolau, sem gravidade. Na maioria das vezes, a ectopia não exige tratamento. Quando há desconforto persistente, secreção ou sangramento frequente, o médico pode discutir ajustes contraceptivos, cauterização química leve ou crioterapia, sempre após excluir infecções e lesões pré-neoplásicas.
Traumas, alergias e condições menos comuns
Nem toda “ferida” tem origem infecciosa ou hormonal. Outras causas incluem:
– Microtraumas: relações sexuais sem lubrificação adequada, uso de brinquedos sexuais ou coleta de exames recente.
– Alergias/irritantes: látex, espermicidas, duchas vaginais e sabonetes íntimos agressivos.
– Dispositivo intrauterino: especialmente o de cobre pode aumentar o sangramento em algumas mulheres, irritando o colo.
– Alterações dermatológicas e autoimunes raras: líquen plano, líquen escleroso, que podem ter reflexos cervicais.
– Hipoestrogenismo: na perimenopausa e pós-menopausa, a atrofia urogenital deixa o epitélio mais frágil, com sangramento fácil.
Em todas essas situações, o manejo foca em remover o agente irritante, restaurar a saúde local e reavaliar.
Como investigar em 2025: do Papanicolau à colposcopia
Passo a passo do rastreamento
O caminho diagnóstico segue uma lógica que prioriza segurança e precisão:
– Avaliação clínica e anamnese: sintomas, uso de anticoncepcionais, histórico sexual e de vacinação, alergias e hábitos de higiene íntima.
– Exame ginecológico com espéculo: observação do colo, presença de secreções, áreas que sangram ao toque e coleta de material.
– Papanicolau (citologia): rastreia alterações celulares. Em 2025, muitas redes já incorporaram o teste de HPV de alto risco como triagem primária ou co-teste, aumentando a sensibilidade.
– Colposcopia: indicada quando o Papanicolau mostra alterações, quando o teste de HPV é positivo para tipos de alto risco (especialmente 16/18) ou quando a aparência do colo é suspeita. Permite mapear a área com mais precisão.
– Biópsia dirigida: confirma o diagnóstico quando há achados colposcópicos relevantes.
Em serviços selecionados, a autocoleta para teste de HPV já é opção para ampliar o acesso ao rastreamento. A positividade no teste molecular direciona a necessidade de colposcopia, mesmo com citologia normal, conforme protocolos locais.
Exames complementares úteis
Além do rastreamento do colo, o ginecologista pode solicitar:
– Testes para ISTs por biologia molecular (PCR para clamídia, gonorreia e tricomonas).
– Cultura e avaliação do microbioma vaginal quando há recorrência de corrimentos.
– Ultrassonografia pélvica para investigar sangramentos anormais ou avaliar anatomia.
– Dosagem hormonal em contextos específicos (perimenopausa, uso de anticoncepcionais, sangramentos persistentes).
Vale reforçar: exames em excesso sem indicação podem aumentar a ansiedade. O foco é investigar com propósito, seguindo o que cada caso pede.
Sintomas, sinais de alerta e autocuidado
Quando as feridas colo preocupam
Alguns sinais merecem avaliação célere:
– Sangramento pós-coito repetido, especialmente se novo para você.
– Corrimento persistente com odor forte, amarelado, esverdeado ou com aspecto espumoso.
– Dor pélvica, febre ou desconforto ao urinar.
– Lesões visíveis, verrugas, coceira intensa que não melhora.
– Alterações no Papanicolau ou teste de HPV positivo para tipos de alto risco.
Feridas colo associadas a dor e sangramento recorrente não devem ser ignoradas. Embora a maioria dos quadros tenha causa benigna, sintomas persistentes pedem investigação para diferenciar inflamação de lesões que exigem acompanhamento mais próximo.
O que fazer até a consulta
Pequenos ajustes de autocuidado podem aliviar desconfortos e evitar piora:
– Evite duchas vaginais e sabonetes agressivos; prefira higiene externa suave.
– Use preservativo até entender a causa; isso protege contra ISTs e reduz irritações.
– Considere lubrificantes à base de água nas relações para evitar microtraumas.
– Não use pomadas por conta própria; elas podem mascarar sintomas e atrapalhar o diagnóstico.
– Anote datas, sintomas e possíveis gatilhos (nova relação, início de anticoncepcional, troca de absorvente) para compartilhar com o médico.
Se houver febre, dor intensa ou sangramento volumoso, procure atendimento de urgência.
Tratamentos eficazes, caso a caso
Condutas para cervicite e ISTs
O tratamento depende da causa identificada:
– Cervicite bacteriana: antibióticos direcionados ao agente (por exemplo, azitromicina para clamídia ou ceftriaxona para gonorreia), muitas vezes associados ao tratamento do(a) parceiro(a) para evitar reinfecção.
– Tricomoníase: metronidazol ou tinidazol, com orientação para abstenção de álcool durante o uso.
– Desequilíbrio do microbioma (vaginoses): terapias que restauram a flora vaginal, podendo incluir probióticos específicos conforme avaliação.
– Candidíase: antifúngicos e ajustes de hábitos (transpiração, roupas muito justas, higiene íntima).
Após o tratamento, uma nova avaliação confirma a resolução da inflamação. Em muitos casos, as áreas que pareciam “feridas” desaparecem, reforçando que nem toda alteração está ligada ao HPV.
Ectopia cervical: quando tratar ou apenas observar
Se a ectopia estiver assintomática, observar é suficiente. Quando há sangramento pós-coito incômodo ou secreção persistente, o médico pode propor:
– Ajuste do método contraceptivo para reduzir estímulo estrogênico.
– Cauterização química leve (como ácido tricloroacético) ou crioterapia, após exclusão de infecções e lesões de alto grau.
– Terapia local em casos de atrofia (na perimenopausa), com estriol tópico quando indicado.
O objetivo é controlar sintomas, não “zerar” a ectopia a qualquer custo. Em geral, os benefícios são imediatos e o risco, baixo.
HPV: condutas baseadas em risco
Quando há HPV de alto risco ou alterações citológicas:
– Lesões de baixo grau (LSIL): muitas regridem espontaneamente, principalmente em mulheres jovens. A conduta é vigilância com repetição de exames conforme diretriz.
– Lesões de alto grau (HSIL): a colposcopia com biópsia define a necessidade de tratamento excisional (como LEEP) ou seguimento próximo.
– Gestação: prioriza-se acompanhamento conservador, tratando apenas quando imprescindível.
O acompanhamento é individualizado. A presença de HPV não modifica a vida sexual em longo prazo quando há adesão ao rastreamento e às condutas indicadas.
Prevenção e próximos passos para 2025
Prevenção prática para 2025
A melhor estratégia une hábitos, vacinação e rastreamento:
– Vacinação contra HPV: recomendada para pré-adolescentes e válida também para adultos jovens que ainda não foram imunizados (converse com seu médico sobre elegibilidade). Mesmo vacinadas, as pessoas devem manter o rastreamento do colo.
– Preservativo: reduz a transmissão de ISTs e protege o tecido cervical de irritantes.
– Microbiota em equilíbrio: evitar duchas, usar roupas respiráveis e considerar probióticos de acordo com orientação profissional.
– Rastreamento regular: Papanicolau e/ou teste de HPV conforme idade, histórico e protocolos locais. Em muitos cenários, o intervalo é de 3 a 5 anos após exames normais.
Para quem já recebeu o alerta de feridas colo, o passo mais importante é cumprir o plano de investigação e retornar nas datas combinadas. A maioria das preocupações se esclarece com uma sequência organizada de exames e revisões.
Checklist rápido: o que levar para sua consulta
– Histórico menstrual, contraceptivo e de vacinação (HPV).
– Lista de medicamentos, alergias e produtos íntimos utilizados.
– Descrição dos sintomas (quando começaram, intensidade, fatores que pioram/melhoram).
– Resultados de exames anteriores (Papanicolau, testes de HPV, colposcopia).
– Perguntas-chave: posso manter relações? Preciso tratar meu/minha parceiro(a)? Qual é o plano se o exame vier alterado?
Perguntas frequentes que descomplicam o tema
Se tenho “feridas” no colo, devo me preocupar com câncer?
Na imensa maioria das vezes, não. A aparência do colo não diagnostica câncer. O rastreamento com Papanicolau, testes de HPV e, quando indicado, colposcopia com biópsia é o que esclarece o risco. Com rastreamento em dia, a chance de surpresas é muito menor.
Anticoncepcional pode causar “feridas”?
Pode favorecer a ectopia, que é benigna e relacionada à exposição estrogênica. Se houver sintomas incômodos, converse sobre ajustar o método ou adotar medidas locais simples.
Como diferenciar corrimento normal de infecção?
O corrimento fisiológico é claro, sem odor forte e varia ao longo do ciclo. Odor marcante, coloração amarelada/esverdeada, aspecto espumoso, coceira e ardor sugerem infecção e justificam avaliação.
Posso ter vida sexual ativa enquanto investigo?
Em geral, sim, usando preservativo até a causa ser definida. Se houver dor, sangramento ou suspeita de IST, evite relações até a reavaliação e orientação do seu médico.
Quantas vezes devo aparecer com a expressão feridas colo no meu laudo?
A expressão pode surgir na descrição clínica, mas a conclusão do laudo deve apontar a causa provável (ectopia, cervicite, achados normais) e a conduta. Se o termo persistir sem explicação, vale pedir esclarecimento ao profissional.
Exemplos práticos para entender melhor
– Caso 1: paciente de 24 anos, com sangramento após a relação e uso de pílula combinada. Exame mostra colo avermelhado, Papanicolau normal. Conduta: orientação sobre lubrificação, ajuste contraceptivo e observação. Resultado: sintomas reduziram sem necessidade de cauterização.
– Caso 2: paciente de 32 anos com corrimento amarelo e odor. Testes positivos para clamídia. Tratamento antibiótico para ela e o parceiro. Na revisão, o aspecto de “ferida” desapareceu.
– Caso 3: paciente de 38 anos com Papanicolau alterado (LSIL) e HPV positivo de alto risco. Colposcopia sem lesão significativa. Conduta: seguimento sem intervenção imediata. Após 12 meses, exames normalizaram.
Esses cenários mostram que feridas colo podem ter causas diversas e, com investigação direcionada, o plano terapêutico fica claro.
Erros comuns que prolongam o problema
– Automedicação com pomadas “para tudo”: pode mascarar sinais, alterar exames e atrasar o diagnóstico.
– Duchas vaginais frequentes: desorganizam a flora protetora, facilitando inflamações.
– Parar o rastreamento por medo do resultado: quanto antes se investiga, mais simples é a solução.
– Ignorar retorno de exame alterado: perda de seguimento aumenta ansiedade e risco desnecessário.
– Acreditar que toda “ferida” é HPV: isso eleva o estresse e pode gerar estigma sem base.
Se você evitar esses tropeços, a chance de resolver o quadro rapidamente é maior.
O que muda na prática com as diretrizes atuais
Em 2025, serviços vêm ampliando o uso do teste molecular para HPV, isolado ou combinado à citologia. A consequência é uma triagem mais sensível, que identifica quem precisa de colposcopia mesmo com Papanicolau normal. Outro avanço é a autocoleta em ambientes estruturados para aumentar a adesão ao rastreamento, principalmente para quem tem barreiras de acesso.
Na prática diária, isso significa menos palpites e mais decisões baseadas em evidências. Se seu exame deu positivo para HPV de alto risco, isso não equivale a diagnóstico de lesão grave; indica apenas que você deve cumprir a colposcopia e o seguimento recomendado. Se negativo, intervalos mais espaçados podem ser adotados, respeitando a orientação do seu serviço.
Fechando o ciclo: conhecimento, cuidado e ação
Nem toda alteração visível no colo do útero é sinônimo de HPV, e “feridas” muitas vezes refletem processos benignos como ectopia ou cervicite. Com avaliação clínica, Papanicolau, testes de HPV e, quando necessário, colposcopia, é possível separar o que exige tratamento do que apenas precisa de observação. Feridas colo que persistem, sangramento pós-coito repetido e corrimento anormal pedem atenção, mas pânico não ajuda: informação e acompanhamento são seus melhores aliados.
Se este conteúdo ajudou a clarear o tema, dê o próximo passo agora: agende seu preventivo, atualize sua vacinação e converse com seu ginecologista sobre o melhor plano para você. Cuidar hoje é o caminho mais curto para viver amanhã com tranquilidade e saúde.
Juliana Amato, ginecologista e obstetra, fala sobre as feridas no colo do útero, esclarecendo que nem todas são causadas pelo HPV. As feridas podem resultar de infecções crônicas, como cervicite, ou do uso de anticoncepcionais, que podem causar alterações na junção escamo-colunar do colo. Para diferenciar as causas das feridas, é realizado o exame de papanicolau, seguido de colposcopia se houver alterações. Juliana busca tranquilizar as mulheres, enfatizando que nem todas as feridas estão relacionadas ao HPV. Ela convida os espectadores a curtirem o vídeo e se inscreverem no canal.