Pular para o conteúdo

Dor durante o sexo? Entenda as causas e quando procurar ajuda

O que achou? post

Por que a dor durante o sexo merece atenção

Sentir dor na relação sexual não é frescura, nem algo para “aguentar”. É um sinal do corpo de que algo precisa ser investigado. Essa dor tem nome: dispareunia. Ela pode surgir no começo da penetração, durante movimentos mais profundos ou até após o ato, e afeta mulheres de todas as idades. A boa notícia é que há causas identificáveis e tratamentos eficazes. Entender o que está por trás do incômodo é o primeiro passo para recuperar o prazer, a segurança e a saúde íntima.

Quando a dor se repete, pode gerar ansiedade, queda do desejo e até conflitos no relacionamento. Por isso, não adie a consulta. Com avaliação adequada, hábitos simples e terapias específicas, a maioria dos casos melhora muito — e alguns se resolvem por completo.

Sinais que pedem atenção imediata

– Dor intensa e súbita acompanhada de febre, náusea ou tontura.
– Sangramento vaginal após a relação.
– Dor pélvica que persiste por horas ou dias depois do sexo.
– Corrimento com odor forte, coceira intensa ou lesões na vulva.

Tipos de dor: superficial x profunda

– Dor superficial: sensação de ardor, queimação ou corte na entrada da vagina (vestíbulo) ou vulva, geralmente no início da penetração.
– Dor profunda: incômodo interno, mais intenso em movimentos mais profundos, posições específicas ou durante o orgasmo.

Saber descrever quando, onde e como dói ajuda o ginecologista a direcionar o diagnóstico da dispareunia.

Principais causas físicas que podem provocar dispareunia

Corpo e mente estão conectados, mas é fundamental investigar causas orgânicas. Muitas vezes a dor é multifatorial, combinando mais de um fator.

Infecções vaginais e pélvicas

– Candidíase: causa coceira, ardor e corrimento esbranquiçado. A mucosa inflamada fica mais sensível, e a penetração pode queimar.
– Vaginose bacteriana: corrimento acinzentado com odor forte; pode gerar desconforto e irritação durante o ato.
– Tricomoníase: IST que provoca corrimento espumoso e dolorimento vaginal.
– Herpes genital: pequenas úlceras ou bolhas na vulva doem intensamente, tornando o contato muito sensível.
– Doença inflamatória pélvica (DIP): infecção que atinge útero, trompas e ovários; além de dor durante o sexo, pode causar febre e dor pélvica contínua.

Como agir:
– Procure avaliação e tratamento específico. Automedicação pode mascarar sintomas e cronificar o quadro.
– Evite relações até completar o tratamento ou enquanto houver dor e lesões.
– Use preservativo para reduzir risco de ISTs e reinfecções.

Doenças dermatológicas e condições vulvares

– Líquen escleroso: doença inflamatória crônica que afina a pele da vulva, causa coceira, fissuras e dor ao contato.
– Vestibulodinia (vulvodínia localizada): dor ou queimação na entrada vaginal, frequentemente à pressão ou toque.
– Dermatites de contato: alergia a sabonetes, fragrâncias, amaciantes, lubrificantes ou preservativos.

Boas práticas:
– Prefira sabonete íntimo suave, sem fragrância, apenas na vulva (não dentro da vagina).
– Evite duchas vaginais e produtos perfumados.
– Avalie, com a médica, o uso de pomadas específicas (corticoide tópico, protetores de barreira) quando indicado.

Secura vaginal e atrofia geniturinária

Na perimenopausa e menopausa, a queda de estrogênio reduz a lubrificação e a elasticidade da mucosa, favorecendo microfissuras e dor. Pós-parto e lactação também podem causar secura temporária. Algumas medicações (antidepressivos, anti-histamínicos, anticoncepcionais de baixa dose) reduzem a lubrificação.

O que ajuda:
– Lubrificantes à base de água ou silicone durante a relação.
– Hidratantes vaginais de uso regular (2–3x por semana).
– Terapia hormonal local (estriol/estrogênio vaginal) quando indicada pelo ginecologista.
– Preliminares mais longas, comunicação sobre ritmo e profundidade.

Endometriose, adenomiose e cistos ovarianos

– Endometriose: tecido semelhante ao endométrio cresce fora do útero e pode causar dor pélvica crônica, dor na relação (principalmente profunda), cólicas intensas e infertilidade. Dor que piora no período menstrual é um sinal de alerta.
– Adenomiose: invasão do endométrio na parede uterina; causa dor pélvica e menstruações volumosas.
– Cistos ovarianos grandes: podem provocar sensação de peso e dor em penetrações profundas.

Condutas frequentes:
– Exames de imagem (ultrassom transvaginal com preparo intestinal, ressonância magnética) quando indicado.
– Tratamento medicamentoso (analgésicos, anti-inflamatórios, hormonais) e, em casos selecionados, cirurgia por equipe experiente.

Fatores musculares e neurológicos: quando o assoalho pélvico participa da dor

O assoalho pélvico é um conjunto de músculos que sustenta os órgãos pélvicos. Quando está muito tenso ou contrai involuntariamente, a penetração pode se tornar difícil e dolorida, caracterizando ou contribuindo para a dispareunia.

Vaginismo e hiperatividade do assoalho pélvico

– Vaginismo: contrações involuntárias dos músculos do assoalho pélvico que dificultam ou impedem a penetração, muitas vezes acompanhadas de medo e antecipação da dor.
– Hipertonia muscular: mesmo sem vaginismo, a tensão crônica pode causar dor, sensação de “obstáculo” e pós-coito desconfortável.

Sinais que sugerem esse componente:
– Dificuldade ao introduzir absorvente interno, coletor menstrual ou para exame ginecológico.
– Dor ao toque leve na entrada da vagina.
– Incômodo que melhora com técnicas de relaxamento e respiração.

Caminhos de tratamento:
– Fisioterapia pélvica com profissional especializado: biofeedback, liberação miofascial, dilatadores vaginais, treino de respiração.
– Terapia sexual e psicoterapia focada em ansiedade, trauma e crenças sobre sexualidade.
– Exercícios em casa com orientação: alongamentos, relaxamento diafragmático, rotina gradual com dilatadores.

Neuralgias e dor crônica

– Neuralgia do pudendo: dor em região vulvar/perineal que piora sentada e pode impactar o ato sexual.
– Síndrome da bexiga dolorosa (cistite intersticial) e síndrome do intestino irritável: condições pélvicas que podem somar-se à sensibilidade na relação.

Abordagem integrada:
– Combinar cuidados: ajuste de postura, fisioterapia, medicamentos moduladores de dor neuropática quando prescritos, técnicas mente-corpo (mindfulness, TCC).

Dimensão emocional e comportamental: o que também influencia a dor

Sexualidade envolve corpo, emoções e contexto. Estresse, ansiedade de desempenho, histórico de trauma sexual, conflitos no relacionamento e falta de comunicação podem amplificar a sensação dolorosa e perpetuar a dispareunia.

Aspectos psicológicos e de relacionamento

– Ansiedade antecipatória: o medo de doer aumenta a tensão muscular e reduz a lubrificação.
– Trauma e experiências negativas: exigem cuidado especializado e abordagem respeitosa, no seu tempo.
– Dinâmica do casal: pressa, falta de preliminares, pressão por penetração ou por orgasmo podem alimentar o ciclo da dor.

Estratégias práticas:
– Conversas abertas sobre ritmo, posições confortáveis e pausas quando necessário.
– Valorização de intimidade não-penetrativa (carícias, sexo oral, massagens) enquanto a dor é investigada e tratada.
– Terapia sexual individual ou de casal para resgatar segurança e prazer.

Hábitos, medicamentos e rotina

– Uso de substâncias: álcool em excesso e tabagismo podem afetar lubrificação e sensibilidade.
– Remédios que alteram libido e lubrificação: alguns antidepressivos, anti-histamínicos e anti-hipertensivos.
– Hidratação e atividade física: melhoram circulação e resposta sexual.

Checklist rápido:
– Revise medicamentos com seu médico.
– Priorize sono e manejo do estresse.
– Mantenha alimentação anti-inflamatória (frutas, legumes, gorduras boas) e hidratação adequada.

Como o diagnóstico é feito: passo a passo no consultório

A avaliação é delicada e respeitosa. O objetivo é entender a história da dor, localizar sua origem e definir o melhor plano. Leve anotações com sintomas, ciclo menstrual e fatores que pioram ou aliviam.

Entrevista clínica criteriosa

– Quando começou a dor? É superficial, profunda ou ambas?
– Em quais posições dói mais? Há dor fora das relações?
– Há corrimento, coceira, lesões, sangramento após o sexo?
– O ciclo menstrual influencia? Há dor na evacuação ou micção?
– Histórico de infecções, endometriose, cirurgias ou partos.
– Uso de contraceptivos, lubrificantes, cosméticos íntimos, medicamentos.

Exame físico com foco na sua segurança

– Inspeção delicada da vulva: busca de fissuras, placas esbranquiçadas (líquen), lesões ou sinais de dermatite.
– Toque leve no vestíbulo (teste do cotonete) para mapear áreas dolorosas.
– Avaliação do tônus do assoalho pélvico e pontos gatilho.
– Toque bimanual para avaliar útero e anexos; dor à mobilização pode sugerir endometriose ou DIP.

Exames complementares quando necessários

– Swab vaginal e testes para ISTs.
– Ultrassom transvaginal; em casos selecionados, ressonância magnética pélvica.
– Colposcopia ou biópsia de lesões vulvares suspeitas.
– Questionários padronizados de dor sexual para monitorar evolução.

Dica: peça que o exame seja conduzido no seu ritmo, com explicações prévias e opção de interromper a qualquer momento. Seu consentimento é prioridade.

Tratamentos eficazes: do consultório aos cuidados em casa

A escolha depende da causa predominante. Muitas vezes, a combinação de terapias traz o melhor resultado. O objetivo é reduzir a dor, curar a inflamação quando presente, reequilibrar o tônus muscular e reconstruir a confiança sexual.

Intervenções médicas e procedimentos

– Infecções: antifúngicos (candidíase), antibióticos (vaginose, tricomoníase, DIP) e antivirais (herpes), conforme diagnóstico.
– Doenças dermatológicas: pomadas específicas (corticoides tópicos, imunomoduladores), hidratantes de barreira e medidas de cuidado da pele.
– Secura/atrofia vaginal: estrogênio local em baixas doses, hidratantes regulares e lubrificantes adequados.
– Endometriose/adenomiose: analgésicos, hormonais (progestagênios, DIU com levonorgestrel), cirurgia conservadora quando indicada.
– Dor neuropática: medicações moduladoras (sob prescrição), fisioterapia e bloqueios em casos selecionados.
– Vaginismo/hipertonia: fisioterapia pélvica estruturada e uso progressivo de dilatadores com orientação.

Posições e ajustes que podem aliviar:
– Controle da profundidade: posições em que a mulher regula o ritmo.
– Angulação confortável: almofadas sob os quadris ou mudança de ângulo do quadril.
– Pausas para lubrificar novamente e respirar profundamente.

Fisioterapia pélvica e terapia sexual: pilares do cuidado

Fisioterapia pélvica:
– Avaliação do tônus e coordenação dos músculos do assoalho.
– Técnicas de liberação miofascial, biofeedback e alongamentos.
– Treino de respiração diafragmática para “desligar” a tensão reflexa.
– Programa com dilatadores: progressivo, sem dor, no tempo da paciente.

Terapia sexual/psicoterapia:
– Reestruturação de crenças sobre dor e prazer.
– Estratégias para reduzir ansiedade antecipatória.
– Comunicação e gradatividade nas experiências íntimas.

Hábitos e autocuidado que potencializam os resultados

– Lubrificantes: escolha conforme necessidade.
– À base de água: versáteis, fáceis de lavar; podem secar mais rápido.
– À base de silicone: maior durabilidade, ideais para secura intensa.
– Evite produtos com fragrâncias, sabores, aquecimento ou agentes irritantes se a pele é sensível.
– Rotina de cuidado vulvar:
– Lave apenas a vulva, 1x ao dia, com produto suave sem perfume.
– Use roupas íntimas de algodão e evite calças muito apertadas.
– Troque biquínis e roupas suadas logo após exercícios.
– Preliminares e tempo:
– Aumente o tempo de excitação; a lubrificação depende de estímulo e relaxamento.
– Combine sinais e palavras de segurança para ajustar ritmo e profundidade.
– Técnicas mente-corpo:
– Respiração 4-6 (inspire 4s, expire 6s) para reduzir o tônus muscular.
– Mindfulness focado em sensações agradáveis e não na dor.
– Registro de sintomas:
– Anote em quais dias/posições dói, uso de lubrificante, nível de estresse e ciclo. Isso orienta ajustes e mostra evolução.

Quando procurar ajuda e como conversar sobre dispareunia

Você não precisa normalizar a dor. Procure atendimento se a dor aparecer repetidamente, se houver sangramento pós-coito, lesões visíveis, corrimento com odor forte ou se o incômodo estiver afetando seu bem-estar ou relacionamento. Quanto mais cedo a avaliação, mais rápido o alívio.

Como se preparar para a consulta

– Liste sintomas, início, frequência e relação com o ciclo menstrual.
– Traga a lista de medicamentos, anticoncepcionais e produtos íntimos usados.
– Anote perguntas: “Quais causas são mais prováveis?”, “Que exames serão necessários?”, “O que posso fazer em casa enquanto aguardo os resultados?”.
– Se preferir, leve uma pessoa de confiança. Sentir-se segura faz diferença.

Como falar com sua/seu parceira(o)

– Use linguagem de parceria: “Quero que o sexo seja confortável e prazeroso para nós”.
– Explique que a dor não é rejeição; é um sinal físico a ser cuidado.
– Combine um período de foco em intimidade sem penetração, explorando outras formas de prazer.
– Reforço importante: apoio e paciência aceleram a recuperação.

Perguntas frequentes sobre dor na relação

Dispareunia é sempre psicológica?

Não. Pode ter causas físicas bem definidas (infecções, secura, endometriose, doenças dermatológicas, hipertonia muscular), emocionais ou ambas. O melhor resultado vem de tratar o quadro de forma integral.

Lubrificante resolve?

Ajuda muito quando a lubrificação é insuficiente, mas não substitui o tratamento de causas como infecções, vaginose, líquen escleroso, endometriose ou vaginismo. Use lubrificante como parte da solução.

É normal doer no pós-parto?

É comum, mas não “normal”. Alterações hormonais e cicatrização de lacerações/episiotomia podem causar dor. Lubrificantes, hidratantes vaginais e fisioterapia pélvica costumam ajudar. Se a dor persiste, procure avaliação.

Anticoncepcional pode causar dor?

Alguns métodos, especialmente pílulas de baixa dose, podem reduzir a lubrificação e o desejo. Converse com a ginecologista sobre alternativas, inclusive hormonais locais ou não hormonais.

Quando a dor indica algo sério?

Dor súbita e intensa, febre, náusea, desmaio, sangramento pós-coito, dor que não melhora e lesões visíveis são sinais de alerta. Busque atendimento o quanto antes.

Plano de ação em 7 passos para aliviar a dor já

1. Faça uma pausa consciente em penetrações dolorosas e priorize formas de intimidade sem dor.
2. Use lubrificante de boa qualidade em toda relação; associe hidratante vaginal 2–3x/semana se houver ressecamento.
3. Inicie respiração diafragmática por 5 minutos/dia e alongamentos suaves de quadril.
4. Reduza irritantes: suspenda produtos perfumados na região íntima e roupas muito apertadas.
5. Registre sintomas por 2–4 semanas para levar à consulta.
6. Agende avaliação ginecológica, citando “dor durante o sexo” e “dispareunia” na marcação para direcionar o atendimento.
7. Se houver tensão/ansiedade, peça encaminhamento para fisioterapia pélvica e, se necessário, terapia sexual.

Ao reconhecer que a dor é um sinal — e não um destino — você dá o primeiro passo para retomar o prazer com segurança. Dispareunia tem tratamento, e você merece viver sua sexualidade sem sofrimento. Agende uma consulta com sua ginecologista, leve suas anotações e comece hoje o plano de cuidado que vai devolver conforto e confiança ao seu corpo.

O vídeo aborda a queixa comum de dor durante a relação sexual, conhecida como dispareunia, que pode ter causas físicas e psicológicas. Entre as causas físicas, destacam-se infecções vaginais e pélvicas, como candidíase e herpes genital, que podem causar dor e desconforto. Doenças dermatológicas, como líquen escleroso, também são mencionadas, assim como a secura vaginal, que pode ocorrer na menopausa devido à diminuição dos hormônios femininos. O vaginismo, caracterizado por contrações involuntárias que dificultam a penetração, é outra causa de dor. Além disso, cistos ovarianos grandes e endometriose podem contribuir para o problema. O vídeo recomenda que mulheres que enfrentam dor na relação sexual consultem um médico para avaliação e diagnóstico adequado, além de manter consultas ginecológicas regulares.

Dra. Juliana Amato

Dra. Juliana Amato

Líder da equipe de Reprodução Humana do Fertilidade.org Médica Colaboradora de Infertilidade e Reprodução Humana pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-graduado Lato Sensu em “Infertilidade Conjugal e Reprodução Assistida” pela Faculdade Nossa Cidade e Projeto Alfa. Master em Infertilidade Conjugal e Reprodução Assistida pela Sociedade Paulista de Medicina Reprodutiva. Titulo de especialista pela FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e APM (Associação Paulista de Medicina).

>