O que é adenomiose e por que está em pauta em 2025
A adenomiose é uma condição em que o tecido que reveste o útero por dentro (endométrio) invade a camada muscular do órgão (miométrio). Esse “crescimento para dentro” desencadeia inflamação local, aumento do volume uterino e alterações no padrão de dor e sangramento. Em 2025, fala-se mais sobre o tema porque o diagnóstico está melhor, e mulheres estão reconhecendo os sinais mais cedo. A adenomiose uterina pode impactar desde a qualidade de vida até a fertilidade, mas há caminhos eficazes de tratamento e acompanhamento.
A doença pode se apresentar de duas formas: focal, quando compromete uma área delimitada, e difusa, quando está espalhada pelo músculo uterino. Em qualquer cenário, a intensidade dos sintomas não é igual para todas: algumas mulheres têm quadros leves e outras enfrentam dor e sangramento que limitam atividades diárias. O mais importante é não normalizar a dor pélvica intensa ou o sangramento exagerado.
Focal x difusa: entendendo as apresentações
Na forma focal, a adenomiose pode se comportar como um “nódulo” dentro do músculo uterino, chamado adenomioma. Ela tende a causar dor localizada e, por vezes, pode ser tratada de forma mais direcionada. Na forma difusa, o miométrio fica mais espessado e heterogêneo em várias regiões, com maior chance de sangramentos prolongados e útero aumentado.
Ambas as formas compartilham mecanismos semelhantes: micro-hemorragias dentro do músculo uterino, inflamação crônica e alterações na contração uterina. É por isso que cólicas ficam mais intensas e surgem coágulos ou ciclos irregulares. Em termos práticos, reconhecer se a adenomiose é focal ou difusa ajuda a planejar o tratamento.
Quem tem mais risco
Embora possa ocorrer em qualquer mulher em idade reprodutiva, alguns fatores aumentam a chance de adenomiose uterina:
– Idade acima de 30–35 anos.
– História de traumas uterinos: cesariana, curetagem, miomectomia ou outros procedimentos intrauterinos.
– Ciclos menstruais abundantes e dolorosos ao longo da vida.
– Alterações hormonais, sobretudo relacionadas ao estrogênio.
– Paridade (ter tido gestações) parece associar-se a maior risco em alguns estudos.
Vale lembrar que ter fatores de risco não significa que você terá a doença. O que muda é o seu “radar”: se algo no seu ciclo ou na dor pélvica mudou, a avaliação ginecológica ganha prioridade.
Sintomas que merecem atenção
O conjunto de sintomas costuma incluir dor pélvica, cólicas mais fortes do que no passado e sangramento menstrual volumoso e prolongado. Muitas pacientes relatam sensação de “pressão” na pelve e cansaço decorrente da perda de sangue. Em quadros moderados a graves, a adenomiose também pode afetar o desempenho no trabalho, o humor e a vida sexual.
O padrão sintomático pode oscilar de mês para mês. Algumas mulheres percebem piora em fases de maior estresse, após um parto ou depois de um procedimento uterino. O ponto-chave é observar mudanças persistentes. Se você sente que o seu ciclo “não é mais o mesmo”, faça uma anotação e leve ao seu ginecologista: esse histórico acelera o diagnóstico.
Dor pélvica e cólicas: quando ligar o alerta
Cólicas que começam antes da menstruação, pioram durante o fluxo e não cedem bem com analgésicos comuns merecem atenção. A dor pode irradiar para as costas ou para as coxas e vir acompanhada de peso pélvico. Em alguns casos, há dor durante a relação sexual (dispareunia), especialmente em penetrações mais profundas.
É importante diferenciar dor de intensidade “habitual” daquela que muda seu dia a dia. Se você falta ao trabalho, cancela compromissos ou evita atividades por causa da dor, isso não é normal. A adenomiose uterina está entre as causas mais frequentes de dismenorreia intensa após os 30 anos.
Sangramento e alterações do ciclo
Sangramentos prolongados (mais de 7 dias), fluxo com coágulos grandes ou a necessidade de trocar absorventes com muita frequência são sinais de alerta. Também pode ocorrer sangramento intermenstrual (escapes) e ciclos encurtados. Essas mudanças favorecem anemia por deficiência de ferro, com sintomas de cansaço, palidez, falta de ar ao esforço e tontura.
Monitore:
– Quantos absorventes você usa por dia e se precisa dobrar a proteção.
– Duração do ciclo e do sangramento.
– Presença de coágulos.
– Sintomas associados (fraqueza, tonturas, palpitações).
Fertilidade e gestação: o que sabemos
A adenomiose pode dificultar a implantação do embrião e alterar a função uterina, elevando o risco de subfertilidade. Estudos observacionais associam a doença a maior risco de abortamento, parto prematuro e ruptura prematura de membranas. Ainda assim, muitas mulheres com adenomiose engravidam naturalmente ou com apoio de técnicas de reprodução assistida.
Se a gestação é um plano, converse cedo com seu ginecologista. Em casos selecionados, tratar sangramento e dor primeiro, otimizar o endométrio e avaliar o uso de terapias hormonais antes de tentar engravidar pode melhorar resultados. Em alguns cenários, o dispositivo intrauterino com levonorgestrel (LNG-IUS) ou cursos curtos de supressão hormonal são discutidos estrategicamente com o especialista.
Como é feito o diagnóstico preciso
O diagnóstico integra sintomas, exame físico e exames de imagem. Muitas vezes, a suspeita surge pela combinação de cólicas intensas, sangramento anormal e aumento do útero ao toque ginecológico. Exames como ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética ajudam a confirmar e a mapear a doença.
Como outras condições podem gerar sintomas parecidos (miomas, pólipos, endometriose), o raciocínio clínico é essencial. Em 2025, os critérios de imagem evoluíram, permitindo identificar padrões típicos de adenomiose com mais segurança e, assim, guiar o tratamento mais assertivo.
Anamnese e exame físico
Na consulta, espere perguntas sobre o histórico do seu ciclo, intensidade da dor, presença de escapes e uso de analgésicos. O médico investigará cirurgias uterinas prévias, cesarianas e planos reprodutivos. No exame pélvico, o útero pode estar aumentado e levemente doloroso à palpação. Esses dados, somados, aumentam a probabilidade clínica de adenomiose.
Leve um diário menstrual de 2–3 meses, registrando datas, volume do fluxo, dor (de 0 a 10) e impacto nas atividades. Esse material direciona a escolha do melhor exame e acelera a confirmação.
Exames de imagem: ultrassom e ressonância magnética
A ultrassonografia transvaginal é o primeiro exame na maioria dos casos. Quando feita por profissional com experiência, detecta sinais sugestivos de adenomiose: espessamento e heterogeneidade do miométrio, assimetria das paredes uterinas, cistos miometriais, linhas estriadas e junção endométrio-miométrio irregular. O ultrassom 3D oferece mais detalhes da zona juncional.
A ressonância magnética da pelve é útil quando o ultrassom não é conclusivo, há suspeita de doença difusa severa ou coexistência com miomas e endometriose. Entre os achados, destacam-se o espessamento da zona juncional (geralmente >12 mm), focos de hemorragia intramiometrial e áreas mal delimitadas de alteração do sinal. Além de confirmar, a RM delineia melhor a extensão, o que ajuda no planejamento terapêutico.
Adenomiose uterina no ultrassom e na ressonância: o que observar
Se o laudo mencionar “cistos miometriais”, “estriações radiais”, “assimetria de paredes” ou “espessamento da zona juncional”, esses são termos que frequentemente apontam para adenomiose uterina. Em lesões focais, pode surgir a descrição de “adenomioma”, um nódulo mal delimitado dentro do miométrio. Já na forma difusa, o útero tende a estar aumentado, com textura heterogênea.
Peça ao seu médico que explique o laudo com imagens na tela. Entender onde está a lesão e sua extensão facilita compreender as opções de tratamento e expectativas de resultado.
Outros exames e diagnósticos diferenciais
Exames laboratoriais ajudam a avaliar anemia (hemograma e ferritina). A histeroscopia tem utilidade limitada para diagnosticar adenomiose, pois observa a cavidade uterina, não o músculo; ainda assim, pode ser útil para tratar pólipos ou investigar sangramentos persistentes. Entre os diferenciais estão miomas, pólipos endometriais, endometrite crônica e endometriose.
Em mulheres com dor pélvica, a adenomiose pode coexistir com endometriose. Isso não muda, necessariamente, a indicação inicial de tratamento clínico, mas influencia estratégias para dor, fertilidade e abordagem cirúrgica se necessária.
Tratamentos eficazes hoje: do conservador ao cirúrgico
O tratamento é personalizado, levando em conta idade, intensidade dos sintomas, desejo reprodutivo e extensão da doença. O objetivo é aliviar a dor, controlar o sangramento, corrigir a anemia, melhorar a qualidade de vida e, quando desejado, preservar a fertilidade. A boa notícia: há diversas opções eficazes, e muitas mulheres encontram controle adequado dos sintomas sem cirurgia.
Manejo clínico e hormonal
– Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs): úteis para dor, especialmente se iniciados 1–2 dias antes do fluxo. Exemplos incluem ibuprofeno e naproxeno, sempre conforme orientação médica.
– Antifibrinolíticos (ácido tranexâmico): reduzem o volume do sangramento em dias de fluxo intenso, sem efeito contraceptivo.
– Progestagênios orais ou injetáveis: modulam a resposta do endométrio e podem reduzir dor e sangramento. Opções incluem dienogeste e medroxiprogesterona.
– Dispositivo intrauterino com levonorgestrel (LNG-IUS): frequentemente é a terapia de primeira linha para controlar sangramento e dor da adenomiose uterina, com benefício adicional de contracepção. A melhora costuma ser progressiva ao longo de 3–6 meses.
– Contraceptivos combinados em regime contínuo: suprimem a menstruação e aliviam cólicas. Podem ser úteis em casos leves a moderados.
– Análogos e antagonistas de GnRH: promovem supressão hormonal temporária. Devem ser usados por tempo limitado, normalmente com terapia “add-back” (baixas doses de estrogênio/progestagênio) para reduzir efeitos colaterais como fogachos e perda óssea.
– Inibidores de aromatase (off-label): em casos selecionados e sob supervisão especializada, podem ser considerados quando outras terapias falham.
Discussões francas sobre efeitos colaterais e expectativas são fundamentais. A melhora do sangramento pode vir antes da completa redução da dor. Ajustes finos de dose e combinações são comuns nas primeiras semanas.
Procedimentos minimamente invasivos
– Embolização das artérias uterinas (EAU): reduz o fluxo sanguíneo para áreas doentes, aliviando dor e sangramento. É uma opção quando o tratamento clínico falha e a paciente busca evitar histerectomia. Resultados são melhores em adenomiose focal ou mista com miomas, mas há alívio significativo também em casos difusos selecionados. Deve-se discutir impacto potencial em futuras gestações.
– HIFU (ultrassom focado de alta intensidade): destrói tecido-alvo por calor sem incisões. Disponibilidade ainda é limitada, e a seleção de casos é criteriosa. Pode ser alternativa para lesões focais.
– Ablação por radiofrequência: utilizada em centros especializados para focos específicos.
– Adenomiomectomia: remoção cirúrgica do foco de adenomiose em casos focais, preservando o útero. Pode melhorar dor e fertilidade, porém envolve risco de recorrência e requer cirurgião experiente.
A escolha do procedimento considera extensão da doença, idade, desejo de gravidez e recursos disponíveis. Uma segunda opinião é bem-vinda quando decisões são complexas.
Cirurgia definitiva
A histerectomia (retirada do útero) é reservada a casos refratários, sem desejo reprodutivo e com forte impacto na qualidade de vida. Pode ser feita por via minimamente invasiva (laparoscópica ou robótica) em muitos casos. A retirada dos ovários não é automaticamente indicada; muitas mulheres se beneficiam da preservação ovariana para manter o equilíbrio hormonal.
Mesmo após cirurgia, o acompanhamento continua importante para monitorar a saúde óssea, cardiovascular e mental, especialmente se houver uso prévio ou posterior de terapias hormonais.
Vida com adenomiose: estratégias práticas para o dia a dia
Viver bem com adenomiose envolve uma combinação de tratamento médico e autocuidado consistente. Pequenas mudanças acumuladas têm grande impacto no controle da dor, do sangramento e do bem-estar. O objetivo é que você retome atividades, produtividade e prazer, sem ficar refém do calendário menstrual.
Construir um plano com metas realistas e avaliações periódicas ajuda a perceber a evolução. Registre sintomas, ajuste hábitos e compartilhe com seu médico o que funcionou ou não. A adenomiose uterina costuma responder melhor quando a abordagem é contínua e adaptada à sua rotina.
Hábitos e ajustes que funcionam
– Monitoramento do ciclo: use um aplicativo para registrar dor (0–10), volume do fluxo, escapes, coágulos e interferências nas atividades. Isso mostra tendências e respostas ao tratamento.
– Alimentação amiga do ferro: aumente consumo de carnes magras, leguminosas, folhas verdes escuras, sementes e vitamina C nas refeições para melhorar a absorção. Avalie suplementação com o médico.
– Estilo de vida anti-inflamatório: priorize frutas, verduras, peixes, azeite, nozes e reduza ultraprocessados, açúcar e álcool. Manter-se hidratada pode atenuar cólicas.
– Movimento regular: exercícios aeróbicos moderados 3–5x por semana e fortalecimento do core reduzem dor e melhoram humor. Nos dias de pico de dor, caminhadas leves e alongamentos já ajudam.
– Fisioterapia pélvica: técnicas de relaxamento, biofeedback e educação perineal aliviam dor durante o ciclo e na relação sexual.
– Sono e estresse: 7–8 horas de sono e práticas de manejo do estresse (respiração, meditação, ioga) modulam a percepção de dor.
– Termoterapia: bolsas de água quente na pelve em crises são simples e efetivas.
Plano de 4 semanas para começar já
– Semana 1: Inicie o diário menstrual e organize seus exames. Ajuste a hidratação e introduza uma caminhada diária de 20 minutos.
– Semana 2: Inclua 2 porções extras de alimentos ricos em ferro, agende avaliação de ferritina e teste alongamentos secos para pelve e lombar.
– Semana 3: Inicie sessões de fisioterapia pélvica ou aulas de ioga focadas em dor pélvica. Reduza açúcar adicionado.
– Semana 4: Revise com seu médico a resposta aos ajustes. Considere AINEs preventivos nos 2 dias que antecedem o fluxo, se recomendados.
Erros comuns e mitos para evitar
– “Dor forte é normal para mim”: dor incapacitante não é normal. Procure avaliação.
– “Gravidez cura adenomiose”: algumas melhoram temporariamente, mas não é garantia de cura.
– “Só histerectomia resolve”: há múltiplas opções conservadoras eficazes.
– “É a mesma coisa que endometriose”: são condições diferentes, embora possam coexistir.
Quando procurar ajuda e como conversar com seu ginecologista
Procure atendimento se você está com sangramentos muito intensos, dor que não melhora com analgésicos usuais, sintomas de anemia ou se seu ciclo mudou de forma persistente. Se a dor ou o sangramento interferem no trabalho, nos estudos ou na vida social, não espere: agende consulta. A detecção e o manejo precoces da adenomiose uterina reduzem complicações e melhoram a qualidade de vida.
Leve para a consulta um resumo objetivo. Quanto mais claro for o seu relato, mais rápido o especialista chega ao diagnóstico e ao plano de cuidado.
Checklist da consulta eficiente
– Sintomas principais (dor, sangramento, escapes, dor sexual), com datas e intensidade.
– Histórico reprodutivo: gestações, abortamentos, planos de gravidez.
– Procedimentos uterinos prévios (cesariana, curetagem, miomectomia).
– Tratamentos já testados (medicações, dispositivo intrauterino, terapias complementares) e o que funcionou.
– Exames anteriores (ultrassom, ressonância) e laudos impressos ou digitais.
– Perguntas chave: “Qual é a extensão da minha adenomiose?”, “Quais opções priorizam preservação da fertilidade?”, “Quais efeitos colaterais devo observar?”, “Quando reavaliar?”
Próximos passos e acompanhamento em 2025
O acompanhamento é contínuo e ajustado aos objetivos de cada fase da vida. Em geral:
– Reavaliação clínica a cada 3–6 meses durante o ajuste terapêutico.
– Monitoramento de hemograma e ferritina se houver anemia ou sangramentos intensos.
– Ultrassom de controle quando houver mudança de sintomas ou após intervenção.
– Planejamento reprodutivo revisitado anualmente ou antes de tentativas de gestação.
A tecnologia também ajuda. Teleconsultas podem discutir respostas ao tratamento, efeitos colaterais e necessidade de ajustes. Para decisões cirúrgicas, considere uma segunda opinião em centro com expertise em adenomiose e endometriose.
O que levar daqui e o próximo passo
A adenomiose é comum, tratável e merece atenção quando altera sua rotina. Você conheceu hoje os principais sintomas, como diferenciá-los de outros problemas, as ferramentas diagnósticas mais usadas e as opções de tratamento que vão do conservador ao cirúrgico. Também viu estratégias práticas de autocuidado para reduzir dor, controlar o sangramento e recuperar qualidade de vida.
Se você se identificou com os sinais descritos, anote seus sintomas por 2–3 ciclos e agende uma consulta com seu ginecologista para discutir a melhor abordagem. Pergunte sobre terapias hormonais, dispositivo intrauterino com levonorgestrel, opções de embolização e, se desejar engravidar, um plano reprodutivo personalizado. Informação e ação coordenada são suas melhores aliadas para viver bem com adenomiose uterina em 2025.
Juliana Amato fala sobre adenomiose, uma condição em que o tecido endometrial cresce dentro da camada muscular do útero. Essa doença pode ser focal, quando afeta uma pequena área, ou difusa, quando está espalhada. Os sintomas incluem dor, irregularidade menstrual e, em casos mais graves, sangramentos intensos. A adenomiose é mais comum em mulheres acima de 30 anos e pode estar relacionada a fatores como alterações hormonais e traumas uterinos. O diagnóstico é feito com base nos sintomas, exame físico e exames de imagem, como ultrassonografia e ressonância magnética. O tratamento varia de acordo com a gravidade e pode incluir anti-inflamatórios, progesterona ou cirurgias, como histerectomia e embolização das artérias uterinas. É importante que mulheres com sintomas procurem um ginecologista para um diagnóstico adequado.
