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FIV e malformações – mitos e verdades

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Entenda FIV e malformações: o que você precisa saber

A fertilização in vitro é uma das grandes aliadas de quem sonha em ter filhos, mas ainda circulam dúvidas sobre possíveis riscos para o bebê. Uma das perguntas mais frequentes é: a FIV aumenta as chances de malformações? A resposta curta, baseada em evidências, é não. O procedimento em si não provoca defeitos congênitos e segue princípios biológicos semelhantes aos da concepção natural. Este guia explica, de forma clara e prática, o que a ciência já comprovou, quais são os fatores que realmente importam, e quando faz sentido considerar exames adicionais. Ao final, você terá segurança para tomar decisões bem-informadas sobre FIV malformações, desde o planejamento até o pré-natal.

Como a FIV funciona — e por que o processo não causa malformações

Etapas passo a passo

A FIV começa com o estímulo ovariano para amadurecer múltiplos óvulos. Em seguida, os óvulos são coletados e colocados em contato com espermatozoides no laboratório (ou fertilizados via ICSI, quando há fator masculino importante). Daí nascem os embriões, que são cultivados por alguns dias até o estágio ideal para transferência ao útero ou congelamento.

Em todas essas etapas, o que o laboratório busca é reproduzir, com alto controle, as condições naturais de fertilização e desenvolvimento inicial. A manipulação é delicada e padronizada, com controle rígido de temperatura, pH, oxigênio e qualidade dos meios de cultura, para preservar a fisiologia do embrião.

O que poderia influenciar e o que não influencia

– O que não influencia: a técnica da FIV, por si só, não cria malformações. O espermatozoide que fertiliza o óvulo e o embrião resultante seguem os mesmos princípios biológicos que na concepção espontânea.
– O que pode influenciar: fatores dos pais (idade, genética, doenças crônicas, hábitos de vida) e condições da gestação (como gemelaridade, diabetes não controlado e exposição a substâncias nocivas). Em outras palavras, são características do casal e do ambiente gestacional — não da FIV em si — que pesam mais no risco.

Mitos e verdades sobre FIV malformações

Mitos comuns

– “A FIV causa malformações.” Mito. Estudos populacionais mostram que a taxa de malformações em bebês concebidos por FIV é semelhante à da população geral, quando ajustada por fatores como idade e condições de saúde dos pais.
– “ICSI aumenta enormemente o risco.” Mito. Em casos específicos de fator masculino grave, pode haver um pequeno aumento em alguns desfechos, mas os dados apontam que o risco está mais associado à causa da infertilidade do que à técnica.
– “Meios de cultura e manipulações ‘estragam’ o embrião.” Mito. Laboratórios seguem normas rígidas e têm controles de qualidade que visam preservar a integridade embrionária.

Verdades baseadas em evidências

– A taxa basal de malformações congênitas em qualquer gestação gira em torno de 3 a 5%.
– A presença de doenças genéticas familiares pode justificar a realização de triagens específicas, como a biópsia embrionária para análise genética.
– Gestações múltiplas elevam riscos obstétricos e perinatais; por isso, a transferência de embrião único é uma prática cada vez mais adotada para maximizar segurança.
– Fatores maternos e paternos modificáveis (controle de doenças, nutrição, suplementação de ácido fólico, evitar álcool e tabaco) têm impacto direto na redução de riscos.

O que a ciência mostra: riscos reais, números e contexto

Estatisticamente, toda gestação tem um risco natural de malformações. Grande parte desse risco decorre de alterações genéticas aleatórias, exposição a agentes teratogênicos ou condições de saúde materna. Em casais que recorrem à reprodução assistida, a idade avançada e a origem da infertilidade (como baixa reserva ovariana, endometriose, alterações severas do sêmen) também entram na equação.

Quando os estudos comparam gestações por FIV com gestações espontâneas, ajustando por idade, comorbidades e gestação múltipla, as diferenças no risco de malformações em geral tornam-se pequenas ou desaparecem. Ou seja, o fator determinante não é a FIV; é o perfil do casal e a condução da gestação.

Pontos importantes sobre números e contexto:
– Risco basal: cerca de 3 a 5% de malformações maiores em gestações espontâneas e por FIV, quando se equalizam as variáveis.
– Gemelaridade: a chance de prematuridade e complicações aumenta com gestação múltipla — independentemente de ter sido espontânea ou por FIV. Por isso, a estratégia de transferência de um único embrião (SET) reduz riscos.
– Fator masculino grave: quando há necessidade de ICSI por alterações severas espermáticas, alguns estudos observam pequenas variações em determinados desfechos; no entanto, o consenso atual é que a causa subjacente da infertilidade é o maior determinante.
– Ambientes laboratoriais: clínicas que seguem protocolos internacionais, monitoramento de qualidade e boas práticas de laboratório mantêm a segurança do processo.

Resumindo: associar FIV malformações como uma relação direta de causa e efeito é incorreto. O que vale, na prática, é avaliar os riscos individuais e adotar medidas preventivas e de acompanhamento.

Fatores que aumentam malformações — e como reduzi-los na FIV

Idade, hábitos e saúde dos pais

– Idade materna: acima dos 35 anos, cresce o risco de alterações cromossômicas e complicações obstétricas. Esse é um fator biológico, não técnico da FIV.
– Idade paterna: pode influenciar qualidade do DNA espermático; espermatozoides com maior fragmentação podem associar-se a pior prognóstico.
– Doenças crônicas: diabetes, hipertensão, obesidade e hipotireoidismo descompensados aumentam riscos gestacionais.
– Exposição a agentes nocivos: álcool, tabaco, drogas ilícitas e alguns medicamentos elevam riscos.
– Deficiências nutricionais: falta de ácido fólico no período periconcepcional aumenta especificamente o risco de defeitos do tubo neural.

Prevenção prática: do pré-concepcional ao pré-natal

Antes da FIV:
– Faça uma consulta de avaliação pré-concepcional completa (histórico familiar, exames laboratoriais, vacinação).
– Otimize o controle de doenças crônicas (A1c no alvo em diabéticas, pressão controlada, TSH normal em hipotireoidismo).
– Inicie suplementação de ácido fólico pelo menos 1 a 3 meses antes (geralmente 400 mcg/dia; doses maiores em casos de risco específico, conforme orientação médica).
– Ajuste hábitos: parar de fumar, evitar álcool, dormir bem, praticar atividade física regular.
– Avalie medicamentos em uso, com o médico, para evitar fármacos potencialmente teratogênicos.

Durante a FIV:
– Prefira transferência de embrião único, quando indicado, para reduzir riscos de gestação múltipla.
– Considere a vitrificação (congelamento) e transferência em ciclo preparado se houver indicação médica, buscando o melhor ambiente endometrial.
– Siga o plano de medicações com rigor e compareça a todos os controles.

Depois da confirmação da gestação:
– Inicie ou mantenha pré-natal precoce e estruturado, com cronograma de ultrassons e rastreios.
– Continue com suplementação (ácido fólico, iodo, vitamina D, ferro se indicado) e plano alimentar adequado.
– Redobre a atenção a sinais de alerta (sangramentos, dor intensa, febre) e mantenha comunicação ágil com a equipe.

Triagem genética e acompanhamento fetal: quando considerar e como decidir

PGT-M, PGT-A e PGT-SR: indicações e limites

A biópsia embrionária (teste genético pré-implantacional, PGT) é uma ferramenta valiosa em situações específicas — e não uma “garantia” universal contra malformações. Existem três grandes categorias:
– PGT-M: indicado quando há risco conhecido de doenças monogênicas (por exemplo, fibrose cística, anemia falciforme). Identifica embriões afetados por mutações específicas.
– PGT-SR: para casais com rearranjos cromossômicos estruturais (translocações, inversões) que aumentam risco de perdas gestacionais e anomalias cromossômicas.
– PGT-A: analisa a ploidia (número de cromossomos), ajudando a selecionar embriões euploides. Pode reduzir abortos espontâneos por aneuploidias e encurtar tempo até a gestação, principalmente em faixas etárias avançadas.

Limites importantes:
– O PGT não detecta todas as malformações. Muitas delas não têm causa genética simples ou não estão ligadas a alterações testáveis na biópsia.
– Há chance de mosaicismo e de resultados inconclusivos. A decisão deve ser personalizada, considerando benefício potencial e custo.
– Mesmo após PGT, o pré-natal completo é indispensável. FIV malformações não é questão de “filtro único”, e sim de camadas de segurança ao longo do caminho.

Roteiro de exames pré-natais após a FIV

Ultrassom de viabilidade (6–8 semanas): confirma localização e batimentos.
– Ultrassom de translucência nucal (11–14 semanas): rastreia aneuploidias e algumas malformações iniciais.
– Triagem bioquímica ou NIPT (teste pré-natal não invasivo): avalia risco de aneuploidias comuns a partir de DNA fetal no sangue materno.
– Ultrassom morfológico detalhado (20–24 semanas): principal exame para detectar malformações estruturais.
– Ecocardiograma fetal (quando indicado): avalia coração do bebê com precisão.
– Acompanhamentos de crescimento: avaliam placenta, líquido amniótico e desenvolvimento fetal até o parto.

Este roteiro se aplica a qualquer gestação, mas é especialmente relevante em reprodução assistida para oferecer máxima segurança e tranquilidade.

Como escolher a clínica e montar seu plano de segurança

A qualidade do laboratório de FIV e a experiência da equipe clínica fazem diferença em todo o processo. Procure ambientes com protocolos claros, indicadores de qualidade e transparência nos resultados. Pergunte, compare, peça detalhes — informação sólida reduz ansiedade e aprimora decisões.

Checklist de critérios ao escolher uma clínica:
– Credenciais da equipe: formação em medicina reprodutiva e embriologia clínica, atuação em reprodução humana.
– Padrões do laboratório: controle de temperatura, pH, qualidade do ar e meios de cultura validados.
– Taxas e transparência: apresentação de resultados por faixa etária e indicações; políticas de transferência de embrião único.
– Suporte ao paciente: orientação nutricional, psicologia, enfermagem e disponibilidade para tirar dúvidas.
– Políticas de segurança: dupla checagem de identificação de gametas e embriões, rastreabilidade completa.
– Opções de PGT: quando indicado, com aconselhamento genético responsável.

Monte seu plano de segurança pessoal:
– Defina metas claras (evitar gestação múltipla, por exemplo) e alinhe com a equipe.
– Antecipe exames pré-concepcionais e atualize a vacinação (rubéola, hepatite B, coqueluche, influenza, conforme orientação).
– Estabeleça rotina de sono, alimentação e atividade física já nos 2–3 meses que antecedem o tratamento.
– Programe acompanhamento estreito no primeiro trimestre e já reserve janelas para ultrassons-chave.

Perguntas que valem ouro — e respostas diretas

– FIV malformações: existe algum cenário de risco maior?
Cenários de maior risco estão ligados ao histórico familiar de doenças genéticas, idade materna avançada, doenças crônicas não controladas e gestação gemelar. Nenhum deles decorre da técnica de FIV por si só.

– Devo fazer biópsia embrionária “por garantia”?
A indicação deve ser individualizada. Faz mais sentido quando há mutações familiares conhecidas (PGT-M), rearranjos cromossômicos (PGT-SR) ou idade avançada/abortos de repetição (PGT-A). Lembre: PGT não substitui o pré-natal.

– ICSI é mais “arriscado” que FIV convencional?
Na maioria dos casos, não. O aparente aumento em alguns estudos está muito ligado à causa da infertilidade (especialmente fator masculino severo), não ao ato da ICSI. Em indicações corretas, é uma técnica segura.

– O congelamento de embriões interfere?
Não. A vitrificação é segura e amplamente utilizada. A decisão entre transferir a fresco ou congelado depende do contexto clínico (janela endometrial, risco de hiperestímulo, logística).

– Quantos embriões transferir?
Sempre que possível, um único embrião. Reduz riscos obstétricos e perinatais, sem prejuízo das taxas cumulativas quando se dispõe de embriões adicionais congelados.

– Como reforçar a prevenção de malformações depois da FIV?
Siga um pré-natal rigoroso, mantenha suplementação adequada (com ênfase em ácido fólico), controle doenças crônicas e compareça a todos os exames de rastreio.

Ao longo deste guia, vimos que a associação direta “FIV malformações” não se sustenta cientificamente. O que realmente importa são os cuidados ao redor do procedimento: preparo do casal, escolha da clínica, prevenção de gestação múltipla, rastreio genético quando indicado e um pré-natal completo. Com essas medidas, você maximiza segurança e tranquilidade do início ao fim.

Se você está planejando sua FIV ou ainda avaliando possibilidades, agende uma conversa com um especialista em reprodução humana. Traga seus exames, seu histórico familiar e suas dúvidas. Com um plano personalizado e informação de qualidade, o próximo passo rumo ao seu positivo fica mais próximo — e mais seguro.

A Dra. Juliana Amato esclarece que a fertilização in vitro (FIV) não aumenta as chances de malformações congênitas. O processo é similar à fertilização natural, com estímulo à ovulação, coleta dos óvulos e fertilização com espermatozoides.

Embora a FIV não cause aumento de malformações, casais com histórico familiar de doenças genéticas podem optar por biópsia de embriões para identificar possíveis alterações antes do implante.

Dra. Juliana Amato

Dra. Juliana Amato

Líder da equipe de Reprodução Humana do Fertilidade.org Médica Colaboradora de Infertilidade e Reprodução Humana pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-graduado Lato Sensu em “Infertilidade Conjugal e Reprodução Assistida” pela Faculdade Nossa Cidade e Projeto Alfa. Master em Infertilidade Conjugal e Reprodução Assistida pela Sociedade Paulista de Medicina Reprodutiva. Titulo de especialista pela FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e APM (Associação Paulista de Medicina).

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